Field Guide – Pergunta ao cientista, Ep. 3: a criptoméria e o musgão: numa sai água e na outra não?
- April 10th, 2023
- Scientific production
- Print Article
Field Guide – Pergunta ao cientista
Episódio 3: a criptoméria e o musgão: numa sai água e na outra não?
Convidado: Débora Sofia Henriques
Anfitrião: A criptoméria e o musgão: apesar de ambos serem plantas, estas duas espécies são profundamente diferentes. Uma é uma árvore e a outra um musgo, uma chega aos 30 metros de altura e a outra, apenas, aos 50 centímetros, uma tem raízes e a outra não. Há uma simples experiência que podemos fazer para observar uma das grandes diferenças entre estas duas plantas. Depois de um dia de chuva, se formos à floresta e pegarmos num bocado de musgão e de criptoméria e os espremermos,
verifica-se que escorre muito mais água do musgão do que da criptoméria. Para nos explicar este fenómeno, temos connosco a Doutora Débora Henriques, doutorada em Gestão Interdisciplinar da Paisagem. É técnica no Banco Genético Vegetal
Autóctone da Empresa Municipal Cascais Ambiente e colaboradora do Grupo da Biodiversidade dos Açores. Doutora Débora, porque é que sai muito mais água do musgão do que da criptoméria?
Especialista: Tal como os seres humanos possuem vasos sanguíneos - que são estradas por onde se transportam as várias substâncias a todas as células do corpo - as plantas têm vasos xilémicos e floémicos que fazem algo semelhante. E são os vasos xilémicos, juntamente com as raízes, quem retira a água e sais minerais do solo e os distribui por toda a planta. Mas existe um grupo de plantas chamadas de ‘’briófitas’’ que não possuem estes vasos condutores e, por isso, não conseguem atingir grandes dimensões, neste grupo estão os musgos. Sem vasos condutores nem verdadeiras raízes, os musgos não conseguem aceder às reservas de água do subsolo e, consequentemente, dependem da água da chuva e da humidade atmosférica. De forma a sobreviverem, estas pequenas plantas tiveram de se tornar excelentes acumuladores de água, desenvolvendo uma arquitetura complexa que lhes permite utilizar todas as células do corpo para, quando a água está disponível em grandes quantidades, absorvê-la muito rapidamente e armazená-la o máximo possível. E no concurso de quem é o maior acumulador de água, é o musgão que ganha o primeiro lugar. Cerca de 80% das suas células, são, na realidade, “saquinhos” de armazenamento de água, e é por isso que conseguem acumular mais de 30 vezes o seu peso em água. Depois de um dia de chuva, todas as células do musgão ficam saturadas de água, bem como os pequenos espaços entre os ramos, e quando esprememos a planta, a força da nossa mão obriga essa água a sair. Por outro lado, quando esprememos um pedaço de criptoméria, a água que está a circular pelos vasos xilémicos e pelos espaços entre as células, permanece no seu lugar, porque os vasos estão protegidos por paredes celulares rígidas e as folhas por uma camada impermeável, que impede que se perca a água que foi absorvida pelas raízes e cuidadosamente transportada até às folhas.
Anfitrião: Duas plantas tão diferentes em aspeto como em funcionamento. A criptoméria absorve água dos lençóis de água do solo, que está sempre disponível, mas o musgão especializou-se em armazenar o máximo que consegue quando chove. Agradecemos à Doutora Débora Henriques pela sua presença e colaboração. Assim como, à Doutora Rosalina Gabriel, da Universidade dos Açores, pela sua ajuda na elaboração desta resposta.
Ficha Técnica:
Especialista convidado Débora Sofia Henriques (Cascais Ambiente)
Locução João Saavedra
Apoio técnico Alexandra Rocha Silva, Carlos Rosa, João Saavedra e Lena Goulart
Pós produção Daniel Sousa e Carlos Rosa
Efeitos sonoros ‘’Mistérios Negros’’, Úrsula Bravo
Fotografia Terceira, Trilho dos Mistérios Negros, eixo de musgão - Sphagnum sp. (Rosalina Gabriel; azoresbioportal.uac.pt)
Projeto Guia de Campo: Ferramentas Móveis Interativas para a Aprendizagem Baseada no Local (PTDC/CED/EDG/31182/2017); IP: Sónia Matos
Mais informações https://field-guide.infohttps://islandlab.uac.pt/software/?id=28
Como citar Henriques, D., Gabriel, R., & Silva, A. R. (Autores). (2022, outubro, 27). A criptoméria e o musgão. Numa sai água e na outra não. In A. R. Silva, R. Gabriel, I. R. Amorim, S. Matos & A. M. Arroz, (Eds.), Field Guide – Pergunta ao cientista, nº 3 [Episódio de podcast áudio]. SoundCloud. Recuperado de: https://soundcloud.com/field-guide-362856827/tracks