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Existem evidências inequívocas da existência de alterações antropogénicas de larga escala nos Açores antes da chegada dos portugueses?

Na imagem: Floresta pluvial montana dos Açores (Fotografia de Rui Bento Elias)

Existem evidências inequívocas da existência de alterações antropogénicas de larga escala nos Açores antes da chegada dos portugueses?

Um grupo de investigadores em ecologia e paleoecologia das Universidades dos Açores, Austrália, Lisboa, Munique e Madeira, acaba de publicar um artigo na revista científica PNAS (Elias et al. 2022) reavaliando o hipotético povoamento Viking do arquipélago dos Açores antes da chegada dos portugueses – particularmente a ideia de impactes ecológicos proposta por Raposeiro e colaboradores (Raposeiro et al. 2021). O grupo, liderado por Rui Bento Elias (Universidade dos Açores), argumenta que não existem evidências suficientes para concluir que o proposto povoamento Viking tenha causado ampla perturbação da ecologia e da paisagem nos Açores, antes da chegada dos portugueses.

Elias e colaboradores analisaram as evidências apresentadas para uma alteração profunda de origem humana, anterior à chegada dos portugueses, questionando as conclusões apresentadas por Raposeiro e colaboradores. Elias e colaboradores propõem uma interpretação diferente para os dados apresentados pelos autores, apresentando explicações alternativas a um hipotético povoamento anterior à chegada dos portugueses.

Esta análise e reinterpretação é apoiada nos próprios dados apresentados por Raposeiro e colaboradores; em estudos semelhantes anteriormente realizados nas ilhas das Flores e do Pico, que não mostram qualquer evidência de povoamentos anteriores; bem como nas numerosas descrições históricas de florestas intocadas em várias ilhas do arquipélago, aquando da chegada dos Portugueses; e, finalmente, na ausência de evidências arqueológicas de ocupação humana generalizada anterior ao povoamento empreendido pelo Reino de Portugal.

«Com base nas informações disponíveis, não negando a possibilidade de presença humana anterior, argumentamos que não existem evidências sólidas que suportem a existência de alterações antropogénicas de larga escala, causadas por povoadores pré-portugueses. Não existem igualmente razões para negar os registos históricos portugueses de que as ilhas eram cobertas por densas florestas naturais no século XV. Esta não é apenas uma questão académica. O pressuposto de um grande impacto antrópico nos Açores, já desde o século VIII, pode levar a uma diminuição dos atuais esforços de conservação para preservar espécies endémicas e habitats únicos.»

Ref. Artigo:

Elias, R.B., Connor, S.E., Góis-Marques, C.A., Schaefer, H., Silva, L., Sequeira, M.M., Moura, M., Borges, P.A.V. & Gabriel, R. (2022). Is there solid evidence of widespread landscape disturbance in the Azores before the arrival of the Portuguese? Proceedings of the National Academy of Sciences, 119:  e2119218119; DOI: 10.1073/pnas.2119218119

 

 PRESS COVERAGE:

DOI: 10.1073/pnas.2119218119